
Os últimos dias foram preenchidos com notícias e memórias sobre a queda do Muro de Berlim. Raras vezes terá ficado tão explícita a falta de empenho, de compromisso, com a liberdade. É verdade que os próprios alemães já fazem do assunto um factóide kitsch, com um museu da RDA que parece concebido para insultar a História, a memória e a dignidade. Mas ainda assim custa ver a colectânea de gente (desde Artur Jorge a artistas desconhecidos, passando por vários docentes - maioritariamente universitários - e jornalistas) a falar da «igualdade» na RDA, como fez ontem o Público pela pena irreparável de São José Almeida.
Ler um «filósofo» dizer que as críticas à RDA partem da identificação da liberdade com a liberdade de expressão é grotesco a mais do que um título: como se isso fosse relativizável; como se as restantes liberdades (de movimentação, de opções políticas e pessoais, de propriedade) não fossem cerceadas; como se um regime sustentado por uma polícia política merecesse consideração, e logo de portugueses, nós que não nos cansamos de falar do 25 de Abril para não termos de tratar dos assuntos de hoje...
No tempo da Guerra Fria, uma piada dizia que a RDA não era nem República, nem Democrática, nem Alemã. As reabilitações póstumas, semi-envergonhadas, da «igualdade» mantida pela STASI e por Moscovo ilustram bem o desconforto de tanta gente que fala em nome da Esquerda com os princípios mais elementares da liberdade. Política e individual. Uma Queda (em sentido cristão e camusiano também), amparada gostosamente, talvez, por uma Cuba Libre. Entretanto, os alemães do ex-Leste, nem querem saber disso e fazem a sua vida, nas últimas duas décadas, em liberdade (na foto, Karl Marx-Stadt, hoje Chemnitz, Maio 2009).
Ate amanha boa gente
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