Pssadas quase 24 horas sobre a noite eleitoral de ontem, parece-me ser possível ensaiar friamente uma reflexão consistente sobre os resultados. O primeiro prisma é o dos partidos.
1. Em primeiro lugar, o PS ganhou. Em circunstâncias particularmente adversas, por um conjunto de factores já escalpelizados. Uma crise herdada, uma crise mundial ímpar e um presidente adverso. A vitória do PS era o objectivo que me movia, e que por isso me deixa satisfeito. Mas é um objectivo alcançado de forma folgada. E que mostra que contra velhos do restelo, demagogias, ventos e marés mais ou menos conspirativas, e forças unificadas pelo mito de que José Sócrates era o problema, o eleitorado renova a sua confiança no PS para conduzir o país. É justo dizê-lo renova essa confiança também no PM. A diabolização tentada do PM não surtiu. O PS governará e Sócrates sai reforçado desta situação. Perdeu a maioria? Avalie-se a correlação de forças contra a qual teve de se bater. A lição no plano pessoal para as oposições passa por não subestimarem o Homem que exerce as funções de PM. A sua combatividade pessoal permitiu-lhe ir aonde muitos não esperavam. E em 3 meses virar um score muito desfavorável nas europeias. Quanto não gostaria o PSD de ter um líder como José Sócrates? Com a sua capacidade política e cosmovisão?
2. Em segundo lugar, como não o dizer, o PSD perdeu. Perdeu sobretudo porque se poupou ao esforço de apresentar um programa político ao país. Mas perdeu também porque fez uma campanha arrogante, assente da dogmática da verdade e da prevalência de slogans falsificadores da realidade. A asfixia democrática foi um deles. A situação do PSD é dramática: tem um grupo parlamentar fragilizado e não domina qualquer centro urbano importante do litoral: com excepção de Leiria. Num certo sentido, é um partido com uma base rural e do interior. Os números do Público de hoje, mostram derrotas estrondosas em concelhos como o Porto, onde ficou a larga distância do PS. O esforço de renovação do PSD tem que ser profundo. Não basta sucederem-se barões na liderança. E a situação é agravada pelo discurso mais cativante do PP a um eleitorado mais jovem e dinâmico. O resultado do PP e a escelente resistência do PS colocam o PSD numa encruzilhada da qual precisa de pensar bem como saír.
Louvo o Nuno Gouveia por este assumir digno da derrota. Contrariamente a outras patetices que por aí se podem ler: desde algumas repletas de raiva e fanatismo, até outras a que se deve simplesmente dar um desconto. Pior são as que revelam mau perder e ressentimento. Isso sim, será falta de cultura democrática.
3. Evidentemente que o BE e o CDS conseguiram excelentes resultados. Não os discrimino, porque a diferença de 0, 5 pontos percentuais, não o permite. O CDS tem mais mandatos e por isso está à frente. Resta saber se sabe o caminho.
Se ganhou o CDS ou se ganhou o PP, se ganharam os liberais, como dizia ontem Martim Avillez Figueiredo, os populistas ou os democratas cristãos, ninguém sabe. O discurso de Paulo Portas no presente tem marcas de tradicional partido conservador democrata cristão. Isso pode ser a sua via de crescimento. O liberalismo não vinga na Europa: veja-se que o partido liberal alemão entrou em festa por aceder a parceiro secundário de coligação com 14%. Querendo retirar bandeiras ao PSD, o CDS tem de recusar uma deriva liberal. Deixar esse caminho ao PSD. A maior armadilha do PSD é assumir-se como liberal e deixar o CDS ser democrata cristão.
Convém acrescentar que falo sobre casa alheia. Se o CDS está de parabéns e se tem figuras respeitáveis isso não retira a demagogia de dizer que recebe o RSI quem não quer trabalhar.
O BE pecou quando entre o extremismo e o diálogo optou pelo primeiro. A esquerda moderna envelheceu com essa opção. No plano económico apresentou propostas gastas. E perdeu votos pela forma brilhante como José Sócrates desmascarou o seu programa económico. A direita devia reconhecer que foi o PS que desmascarou essas medidas. Eu esperava outras propostas económicas do BE, e espero que depois do sucedido o BE se redefina nesse domínio.
O BE só tem a perder se insitir nas bandeiras de esquerda inconciliável. Pelo futuro do BE, espero bem que Louçã regenere o seu discurso. Ou o que o seu ciclo tenha chegado ao fim. O discurso de ontem de Luís Fazenda antecipou de forma desastrada a vitória. E o discurso de Louçã, com um caderno de encargos e uma fulanização da política, desta feita em Maria de Lurdes Rodrigues, não foi a melhor forma de começar entendimentos à esquerda. Como digo, há outro BE. Moderado. Mas que infelizmente para eles não manda no partido.
4. A CDU aumentou o número de mandatos e continua uma grande força autárquica. Deverá perder Câmaras, como espero seja o caso de Almada. Mas ainda existe, e ainda resiste.
Ate amanha gente boa
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
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