quarta-feira, 15 de julho de 2009

PALMA INÁCIO, O REVOLUCIONÁRIO ROMÂNTICO


Morreu hoje um dos maiores revolucionários portugueses. Palma Inácio, nasceu em Ferragudo (Algarve) no dia 29 de Janeiro de 1922. Protagonizou, juntamente com outros corajosos camaradas, vários e espectaculares golpes contra o fascismo/salazarismo, era para alguns o Ché-Guevara português, para outros o último revolucionário romântico.

Mestre dos golpes contra Salazar

Palma Inácio, que a luta contra a ditadura salazarista tornou uma lenda viva, faleceu ontem, com 87 anos, vítima de doença prolongada. A sua vida de constante luta pela liberdade é a história das mais espectaculares acções revolucionárias: participou aos 25 anos (1947) no seu primeiro golpe, sabotando com o saber de mecânico os aviões militares estacionados na base de Sintra; foi líder do primeiro desvio revolucionário de uma avião comercial, em Novembro de 1961, para lançar cem mil panfletos anti-Salazar sobre Lisboa, Barreiro, Setúbal, Beja e Faro; preparou e concretizou com outros militantes o assalto, em Maio de 1967, à delegação do Banco de Portugal na Figueira da Foz; protagonizou espectaculares fugas de cadeias da ditadura e pensou outras acções que nunca ninguém imaginou, como uma sublevação nacional a partir da ocupação da Covilhã.

Os seus golpes antiditadura correram mundo. A revista do ‘Sunday Times’ contou ao pormenor a forma como humilhou a PIDE com uma fuga debaixo de chuva da cadeia do Porto.

Em 1973, um jornalista da ‘Time’ encontrou-o em Paris para contar em meia página a sua história como ‘Pimpinela Escarlate’ da revolução portuguesa. Foi buscar à revolução francesa um herói romanesco para dizer quem era este homem que faleceu ontem, 14 de Julho, dia da Tomada da Bastilha.

'CM' JUNTOU ASSALTANTE E PILOTO

Em Novembro 2006, 45 anos após o desvio do Super-Constellation da TAP Mouzinho de Albuquerque por seis portugueses anti-salazaristas, liderados por Palma Inácio, o Correio da Manhã voltou a juntar o líder dos assaltantes e o comandante José Marcelino, que nunca mais se haviam encontrado. O trabalho jornalístico realizado por Manuel Catarino revelava como, apesar da idade e das sequelas de muitos maus tratos da PIDE, Palma Inácio mantinha o sorriso quebra-corações.

'JULGAMENTO ATÉ QUE CHOVA A POTES'

Mário Soares encontrou pela primeira Palma Inácio quando foi seu advogado num processo que corria na PIDE do Porto. A história foi contada ontem na Renascença: 'Eu disse: como é que quer que faça a defesa? Ele respondeu: 'Não quero que faça nada, só quero que prolongue o julgamento até que chova a potes.' Nesse dia, Palma fugiu da cadeia.

PERFIL

HERMÍNIO DA PALMA INÁCIO nasceu em 1922, em Ferragudo, concelho de Lagoa, no Algarve, mas foi em Tunes, Silves, que viveu até aos 18 anos e se alistou na Aeronáutica Militar. Formou-se mecânico de aviões e aos sonhos juntou a vontade revolucionária da liberdade. Em 1947, entrou no ‘Golpe dos Militares’, sabotando os aviões da base de Sintra. Soube do 25 de Abril de 1974 preso em Caxias.

FRASES

'Coragem, coragem e coragem. E solidariedade. Será lembrado como alguém que perdura para além da sua vida.' (Camilo Mortágua)

'Não era político, era um revolucionário. De grande simpatia e capacidade de imaginação, coragem e dinamismo.' (Mário Soares)

'A sua vida dava um filme ou um romance. Tudo o que fez foi para que houvesse em Portugal regime democrático.' (Manuel Alegre)

Ate sempre camarada

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